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Shawinigan, Quebec, Canada

domingo, 10 de dezembro de 2017

Sobre procurar emprego

Procurar recolocação não é fácil no nosso país, imagina fora dele.
Não foi fácil, demorou mais do que eu esperava, enviei quase 150 CVs, fiz mais de 20 entrevistas, seja por telefone, por skype, triagens e pessoalmente.
Vou contar um pouco da minha busca, com o objetivo de compartilhar a experiêcia com quem está na mesma jornada ou pretende embarcar nessa (e também atualizar os fofoqueiros).

A preparação
Quando cheguei no Quebec, a idéia inicial era estudar francês por seis meses e, com uma base funcional do idioma, iniciar a procura por trabalho. Mesmo assim, desde o primeiro mês, me cadastrei em vários sites de emprego para entender a necessidade do mercado, o nível de qualificação exigido e, principalmente, tentar começar a trabalhar em ambiente aglofonico. Essa não foi a melhor estratégia. Então já deixo a primeira dica: domine o idioma local. Encontrei onde eu pudesse trabalhar falando só inglês? Sim, porém com salário bem baixo e completamente fora do meu campo de experiência.
Passei aproximadamente 5 meses me inscrevendo em vagas  como : revisor /tradutor de jogos, atendimento a cliente de empresas do ramo de turismo, internet, ensino de idiomas… posso afirmar que o contato com cada uma dessas empresas foi primordial para conseguir uma base de conhecimento que me permitisse responder bem ao padrão de entrevista canadense. Dito isso, segunda dica: faça entrevistas. Atenda todos os chamados, mesmo que você não tenha muita certeza de que aceitaria uma proposta daquela empresa. Fazer entrevista enriquece sua agilidade de resposta. Ver tutoriais, textos, vídeos, blogs, consultoria… tudo isso ajuda  E MUITO,  mas nada prepara mais do que a prática. Todas as frustações e "nãos" que recebi foram importantes para meu aprendizado.

Feiras de emprego
Conheci aqui as feiras de emprego. Pense numa feira mesmo, com stands apresentando seus produtos, no caso, vagas. As feiras são interessantes e passagem obrigatória pra quem está na busca. Mesmo que nenhuma vaga exposta seja interessante (o que é quase impossível), o contato pessoal transmite miuto mais sua mensagem e demonstra a vontade e disposição do candidato, afinal é muito mais cômodo se inscrever pela internet. As feiras sempre têm um site no qual você pode consultar as empresas e vagas disponíveis, então a principal dica é: aplicar pela internet antes de ir e depois entregar o CV pessoalmente na feira. Isso causa boa impressão e ainda possibilita conhecer o recrutador, provocar uma empatia, destacar-se perante a concorrência!

Defina seu objetivo profissional
A gente escuta muito quem quer imigrar dizer que vai trabalhar com qualquer coisa. Eu disse isso algumas vezes. Isso é perigoso. Ter a mente aberta para qualquer coisa é importante, mas atirar para todos os lados não é legal. Não funcionou comigo. No decorrer de minha procura, estive em duas feiras de emprego. Na primeira, eu não estava certa do que queria fazer, estava aberta a tudo. E quando me perguntavam qual era meu objetivo, eu dava respostas evasivas. Conclusão : zero retorno. Na segunda feira que fui, já estava mais estruturada e sabia exatamente o que estava buscando. Conclusão : dois processos seletivos, duas propostas de emprego e admissão na empresa onde trabalho hoje.

A entrevista
Depois de muito estudar e me preparar para as trocentas entrevistas que fiz aqui, posso dizer que poucas são as empresas que não seguem um protocolo padronizado, quase que petrificado de entrevistas. Todos perguntam mais ou menos as mesmas coisas. Mesmo que, na segunda pergunta, o entrevistador identifique que o candidato não tem mais chances de seguir no processo, ele vai seguir com todo o questionário de 388 perguntas previstas. Isso quer dizer que se você selecionar as perguntas padrão na internet, já vai ter uma base para se preparar. Se responder mal no início, tem chance de ir se recuperando no decorrer da entrevista. No Brasil, temos a duração da entrevista como um termômetro de nossa chance de admissão (quanto mais demorada, mais interesse do contratante). Aqui, esquece isso.
O conhecimento sobre a empresa também é muito importante. O entrevistador sempre vai querer saber qual é o seu nível de conhecimento sobre o produto, serviço ou área de atuação da empresa e é aí que mora outro perigo : ser imigrante pode ser um obstáculo para esse conhecimento, consequentemente, ponto de decisão para uma eventual  eliminação num processo. Informar-se sobre a empresa onde você quer trabalhar é básico. Considerando que você está concorrendo com nativos, a informação precisa ser profunda e você precisa conhecer a empresa tanto ou mais do que os outros candidatos se quiser ter chance.

Preconceito
Não passei por isso. Pelo menos, não senti que tenha passado. Sempre me coloquei no lugar do contratante e entendo que, para determinadas vagas a penetração e conhecimento no mercado local podem ser características determinantes no perfil do candidato e, no final, entre um imigrante e um nativo, ambos com o mesmo preparo e competências, logicamente o nativo terá preferência à vaga. Imaginemos uma vaga de vendas ou de prospecção de novos negócios: um nativo com uma carteira de clientes e network local terá vantagem sobre um imigrante que deverá construir essa base do zero. Isso não pode ser confundido com preconceito. Empresas contratam o profissional mais preparado para a vaga. Gente preconceituosa existe em qualquer parte do mundo, claro. Vai ter contratante que vai preferir os nativos sem ver as competências? Sim, mas isso não é uma constante.
Minha opinião é que pode sim existir um preconceito velado e uma preferência aos nativos, mas o país padece de mão de obra e não se  permite esse tipo de seleção. Só opinião…

Subemprego
Falando em preconceito… essa coisa de subemprego não é vista dessa forma aqui. Brasileiros tem essa coisa de "taxar" determinadas profissões como subemprego por conta, na verdade, do "subsalário". Infelizmente, ganhar salário mínimo no Brasil, não é sinônimo de qualidade de vida. Eu não estou falando de casa na praia, carro do ano e duas viagens internacionais por ano. Estou falando de um aluguel justo, transporte e educação públicos, segurança e compras do mês. O básico. Sabe por que aqui não tem essa coisa de subemprego? Porque o salário mínimo garante uma qualidade mínima de vida.
Muito comum ver os adolescentes começarem suas vidas profissionais em empregos de meio período, conciliado com a escola ou faculdade, nos caixas de supermercados, cuidando de crianças, cortando grama da vizinhança, atendendo no Subway, McDonalds… Muito comum também que o faxineiro do metrô ou o garçon da pizzaria passe o fim de semana na casa de lago da familia. O preconceito que paira sobre algumas profissões é definitivamente uma coisa muito nossa (de brasileiro) e que não pode imigrar com você.

Superqualificação
Por ter perdido uma oportunidade de emprego pelo motivo de estar "super qualificada" para a vaga, resolvi concluir o post com esse tema. Eu via postagens no Linkedin de profissionais, em tempos de crise sendo eliminados de processos  por estarem super qualificados e pensava que isso não podia ser real… até acontecer comigo. Quando a gente imigra, normalmente está disposto a retroceder na carreira como uma forma de facilitar a recolocação. Se esse for o objetivo, recomendo adaptar bem o CV, cortando informações que possam indicar a super qualificação. Não estou estimulando a mentira! Veja bem… a gente realmente se pré-dispõe a dar um passo atrás porque fica mais fácil conciliar a adaptação e a integração no novo país com uma atividade profissional de menos responsabilidade. Essa estratégia pode funcionar, mas pensa só: poucas empresas querem correr o risco de colocar um ex-gerente para realizar serviços de assistente, e depois de 3, 4 meses, quando ele estiver integrado e seguro, encontra outra oportunidade, equivalente ao seu nivel de carreira e deixa a empresa... é um risco legítimo. Mas também entendo quando o imigrante tem dificuldade de se recolocar por falta de "experiencia local". Esse aliás, foi o motivo que me eliminou do primeiro processo seletivo que participei aqui.
Depois que decidi o que realmente queria, passei a aplicar para vagas de menos responsabilidade, com CV adaptado, ainda assim, ao aplicar para a empresa onde trabalho hoje, o retorno foi para uma outra vaga, quase equivalente ao meu nivel de carreira no Brasil. Ou seja, a questão da qualificação é levada muito a sério.  Se você tem um diploma universitário, dificilmente será convocado para vagas que só exigem o ensino médio. Isso não tem nada a ver com o fato de ser imigrante, mas sim com a garantia de que o investimento naquele candidato vai compensar.
Minha opinião quanto a tentar vagas de menos responsabilidade e dar um passo atrás é: sim, é autêntico, desde que o objetivo seja crescer dentro da própria empresa. Acho que "arrumar qualquer coisa para depois procurar  coisa melhor  em outra empresa, em outro campo" não soa ético e pode prejudicar a imagem do profissional. Pensava diferente no inicio, mas depois de erros e acertos, mudei de visão.
Mas... é apenas uma opinião.

Muitos outros aspectos ainda poderiam entrar aqui, mas acredito que estes tenham sido os mais marcantes na minha procura. Espero ter ajudado!